
"Existiu uma vez um homem, ateu convicto, que vivia falando contra Deus. Ele havia escrito numa parede de sua sala de estar, em letras grandes e douradas: 'God is nowhere [Deus não está em lugar nenhum].
Pois bem, ele teve um filho. Certa vez estava brincando com a criança que, nessa ocasião, estava aprendendo a ler.
Como não era capaz de ler a longa palavra nowhere [lugar nenhum], a criança dividiu-a em duas. Ela leu a frase: 'God is now-here' [now here: agora aqui, ou aqui agora]. 'Nowhere' era uma palavra grande demais; a criança dividiu-a em 'now-here': 'aqui-agora'..."
Deve ter sido um momento raro para o ateu. Na verdade, quando você brinca com uma criança, esquece a seriedade, esquece as ideologias, esquece a religião, esquece a filosofia, esquece a teologia.
Quando você brinca com uma criança, entra num estado semelhante ao da meditação; por isso brincar com crianças é algo de grande valor. Quando brinca com uma criança, por alguns instantes você se torna criança também. E lembre-se das palavras de Jesus: "Se você não for como as criancinhas, não entrará no reino de Deus".
"...Naquele momento, alguma coisa aconteceu. A criança disse em inglês: 'Deus está aqui agora', e o pai foi pego de surpresa..."
Quando ouviu a frase, estava de bom humor, de ânimo alegre com a criança. E não se pode argumentar com uma criança, dizendo: "Deus não existe".
"...E como ele estava brincalhão, calmo, desfrutando o momento, a frase da criança se tornou algo de tremenda importância, algo muito significativo, como se Deus tivesse falado por meio dela. O homem olhou para a parede pela primeira vez.
Toda a sua vida ele tinha visto aquela frase e nunca tinha lido: 'Deus está aqui agora', mas sim: 'Deus não está em lugar algum'. Nunca concebera que 'lugar algum' se converteria em 'aqui agora'; que 'lugar algum' consiste em 'aqui agora'.
Ele se transformou. Tornou-se quase um satori. Não era mais ateu. As pessoas ficavam perplexas. Não podiam acreditar no que tinha acontecido, porque ele sempre fora tão taxativo, apresentando tantas provas contra Deus. O que teria acontecido?
Quando lhe perguntavam, ele sacudia os ombros e respondia: 'Entendo por que todo mundo está tão intrigado. Também eu estou. Pergunte a esse menino – ele fez alguma coisa. Ao ouvir a frase do menino, alguma coisa mudou em mim.
E não sou apenas uma pessoa diferente, no sentido lógico. Estou diferente, no sentido existencial. Desde então, tenho visto Deus aqui e agora: no vento que sopra entre as árvores, na chuva caindo no telhado, ouço os passos dele, ouço sua canção.
Os pássaros cantam, e eu me lembro de Deus aqui e agora. O sol nasce, e eu me lembro de Deus aqui e agora. Agora não é mais uma questão de argumentação; tornou-se parte de minha experiência'."
Osho, em "Filhos do Universo: Reflexões Sobre Desiderata"
Imagem por uBookworm